O CURSO
Como interpretar a Amazônia a partir do fortalecimento de ideários urbanos que, ao longo do século XX e das primeiras décadas do XXI, segue construindo paisagens cujo cenário modernizante são estabelecidos nas metrópoles ou povoados à margem dos rios ou à sombra da floresta, um locus para a recepção, circulação e fixação de discursos civilizatórios? Quais as instâncias que se perpetuam para a construção de arcos discursivos que, entre outras análises, oferecem leituras opacas das tensões e lutas sociais, parâmetros críticos incompatíveis sobre as dimensões culturais local e, um entendimento reducionista dos limites ambientais e das barreiras geográficas que esse território amazônico impõem à sociedade? E como persiste no imaginário coletivo a narrativa colonial, dimensão esta dominante que auto-define o território Amazônia? Sob o ponto de vista nacional ou transnacional, tal prerrogativa continuará a estabelecer suas consequências nocivas sobre o ambiente e a sociedade no correr do tempo-espaço amazônico?
As problematizações indicadas abrem um leque de possibilidades para a formulação de chaves analíticas que implicam na construção de saberes sobre a Amazônia. Na multiplicidade dos processos que abrangem esse território transnacional e diante da complexidade de camadas que o atravessam, é necessário a definição de critérios para que se possa compreender o estado da arte do Território Amazônico, sobretudo no que diz respeito a um recorte epistemológico que confronte as pesquisas ligadas ao campo temático da paisagem, considerando os desdobramentos na esfera socioambiental, assim como, as possíveis conexões no âmbito da arte e da cultura.
Mediante o escopo apresentado, definem-se as linhas de força que desenham a matriz do curso e os recortes temáticos específicos que foram reconhecidos como os elementos fundantes para o estudo do objeto da disciplina: a Amazônia. Vale destacar que as abordagens apontam, entre outras questões, para:
i) as tensões e conflitos subjacentes às relações socioespaciais nos espaços urbanos,
ii) análises de crises e distopias no diz respeito ao plano socioambiental, sobretudo os entraves vigentes nas últimas décadas; e
iii) referência o debate que envolve os valores culturais ancestrais e coetâneos que se manifestam na construção de cidades e na formação ética-cidadã dos distintos grupos sociais que habitam a região amazônica.
De uma forma conjuntural, há de se considerar que o projeto civilizatório imputado a essa região, aparentemente, ainda oferece sinais de um contínuo exercício de práticas coloniais na atualidade. Tal questão, suscita a prerrogativa de um colonialismo de longa duração e estrutural que se perpetra na região e manifesta-se em uma matriz que, entre outras coisas, renova e reedita projetos exploratórios que historicamente potencializaram ao longo do tempo o surgimento de novas cidades e, em grande medida, o crescimento da região.
Os deslocamentos indicados, sejam ideológicos ou articulados a um escopo programático de ações, revelam a envergadura de um pós-colonialismo de práticas, usos e costumes que se instalou nas entranhas de uma sociedade amazônica que ainda parece reproduzir práticas societárias sectaristas, fortalecer disputas econômicas e persistir em atividades de teor contraditório e ação prejudicial no campo ambiental. Tais prerrogativas precisam ser discutidas por diversos segmentos da sociedade no interesse de serem superadas. A ética política e a dinâmica do que esse corpo social desenha do tecido urbano, segue em direção às maquinarias que tendem a ser capturadas por uma lógica hegemônica que continuamente estabelece um modus de reproduzir padrões de cidades, paisagens e práticas culturais homogeneizantes.
Emerge, portanto, nessa linha analítica, uma tábula rasa que, aparentemente, espraia-se pelo tecido socioespacial e dinamiza a produção de formas e padrões arquitetônicos e urbanísticos para pensar a própria história das cidades que seguem construindo a sua existência, o seu ser e estar cultural e patrimonial no mundo amazônico.
Portanto, as metrópoles e cidades de grande porte amazônicas, tornaram-se caixas de ressonância de tendências urbanas, identidades socioespaciais e hábitos culturais. Por esta razão a necessidade e urgência de se pensar a Amazônia diante dos seus limites ambientais, o seu contexto cultural, como também, as características que se manifestam no exercício das conviviabilidades e da cultura material e imaterial que se manifesta na paisagem.
OBJETIVOS
O presente curso objetiva discutir aspectos vinculados à arquitetura da paisagem e do ambiente construído no território amazônico. Para tanto, a construção do tecido urbano e suas bordas junto à floresta e aos rios da Amazônia, em um campo ampliado, foi definido como ponto central das reflexões da disciplina.
No campo epistemológico o debate terá como retaguarda teórica autores e obras que percorrem questões diretamente relacionadas à natureza, cidade e cultura.
O ambiente amazônico e suas polivocalidades ganham protagonismo e serão analisados à luz de recortes temáticos que aprofundam o debate sobre a ambivalência do território amazônico em uma esfera transnacional, demarcando áreas de discussão sobre as ancestralidades e migrações transculturais que, por sua vez, potencializaram uma produção artística e cultural única dessa sociedade.
Será ainda colocado em relevo pautas de ordem socioambiental, considerando as tensões e rupturas cujos os debates relacionados ao biocentrismo e ao ecocentrismo tem contribuído efetivamente para pensar o valor ambiental da Amazônia.
A discussão voltada à biodiversidade urbana para as disputas que definiram, ao longo da história, o que compreendemos como território amazônico na contemporaneidade também atravessa o escopo conceitual da disciplina.
REFERÊNCIAS