Tópicos especiais em arquitetura II

Tópicos especiais em arquitetura II (45h) | 711 – FAH 811
2º Trimestre: 21 de 0utubro de 2020 a 23 de dezembro de 2020
Quarta-feira | Horário: 14:00 – 17:30
Disciplina remota

Prof. Rubens Andrade |  Profa. Vera Tângari 

Tendo como recorte temático os estudos da Arquitetura da Paisagem, o curso percorrerá os fundamentos teóricos e conceituais para interpretar as representações urbano-paisagísticas a partir de um recorte histórico. Para tanto, serão construídas matrizes analíticas para evidenciar múltiplos aspectos da paisagem construída, colocando em diálogo as distinções e aproximações de variadas perspectivas teórico-conceituais, especialmente a partir de temas pautados: no debate socioambiental, na produção de visualidades artísticas e na fabricação de territórios paisagísticos, em particular focalizando aspectos do ambiente latino-americano

Analisaremos as teorias da paisagem a partir de autores das Escolas francesa, americana e brasileira, alinhando a discussão a uma perspectiva histórica e transcultural, seja sob o ponto de vista do hibridismo cultural como também pelo exame das espacialidades urbano-paisagísticas reveladas a partir de práticas socioespaciais. Uma especial atenção será dada à complexa teia de hibridismos culturais que se desvelam na construção da urbanidade das cidades seja do continente europeu como americano a partir do final do século XIX e estendido até os dias de hoje, quando o tecido urbano dessas urbes ainda fabricam jogos de imagens, representações e usos que não consideram apenas o legado morfológico e tipológico existente na trama urbana, mas efetivamente, potencializam plurais arranjos urbano-paisagísticos em diferenciados níveis de apropriação pelos atores sociais que vivem na cidade.

A análise iconográfica, as leituras da história da Arte, da História da Arquitetura e da História da Cidade servirão de conexão para as abordagens que serão realizadas ao longo da disciplina, como aquelas que percebem as paisagens urbanas em diferentes tempos históricos e através de múltiplas linguagens formais e simbólicas que desenham cidades, criam ambientes e definem culturalmente a ideia de lugar. Diante de tais objetivos, parte significativa da disciplina desenha sua trajetória em análises que se abrem para interpretações transdisciplinares. Desse modo, a mesma percorrerá territórios de saberes distintos, mas simultaneamente, atravessará fronteiras disciplinares cujo intuito é estabelecer um pensar teórico globalizante e também decolonial, condizente com a perspectiva contemporânea que busca analisar a história da sociedade, das cidades e de suas paisagens nos dias atuais.

A experiência estética da paisagem é uma experiência política, e explorar as partes que a compõem, suas características e suas relações, sua diversidade de formas, usos e sentidos, e procurar juízos que deem conta dos mecanismos de realização e desrealização é um percurso acidentado que pode nos remeter a uma (re)apropriação política da paisagem. Produto humano, fato da cultura, a paisagem traz impressa em tudo que a constitui as pautas, os rituais e os significados simbólicos da sociedade que a produziu – traz em si, portanto, forte componente ideológico, que pode ser analisado a partir de sua formulação, como também na apropriação pela sociedade. A partir de uma perspectiva que assume um caráter político e sociocultural, e fundamentado pelos rigores das teorias e conceitos do campo de estudo da arquitetura da paisagem, desenha-se o pano de fundo reflexivo que será o fio condutor, definido para discutir a dimensão e o papel dos estudos da paisagem como matriz conceitual que tem o vigor de interpretar as relações entre cultura e natureza no ambiente construído.

O recorte temático e o objeto da disciplina voltam-se para um campo discursivo fértil que revela desafios teóricos a serem superados a partir de uma compreensão crítica tanto das práticas socioespaciais quanto das hibridizações culturais que resguardam os estudos da paisagem em seu campo ampliado, assim como os conceitos que definem as bases do estudo da arquitetura da paisagem stricto sensu. A escolha da arquitetura da paisagem como objeto da disciplina aponta para um conceito, mas também para um instrumental metodológico cuja contextualização crítica solicita o estabelecimento de critérios, quer sejam eles associativos ou comparativos, que articulem objetos, ações e questões, sob o prisma de domínios históricos, sociológicos, morfológicos e paisagísticos, nos quais os conceitos de cidade e campo, espaço e lugar, sociedade e natureza, arte e ambiente estabelecem-se como elementos essenciais para o entendimento do recorte temático da disciplina: os estudos da paisagem e de seus hibridismos culturais e conflito socioespaciais.

O ponto de partida da discussão e o recorte epistemológico propostos pela disciplina optam pelo campo disciplinar da Arquitetura e Ubanismo e seus atributos, alusivos à técnica, à arte e aos métodos de organização do espaço e da construção do lugar. Por um outro lado, a argumentação apoia-se no arcabouço teórico tributário aos estudos urbano-paisagísticos, que, em particular, firma-se nas últimas décadas como área de excelência disciplinar e de conhecimento. Tais argumentações provenientes desses dois campos de saberes distintos e complementares transitarão pelos aportes teóricos relativos às ideias da invenção da paisagem e cultura paisagística pois seus fundamentos instauram uma compreensão dialética que confere o sentido e a possibilidade de diferentes interpretações urbano-paisagísticas como matriz conceitual e elemento problematizador que se auto-defina, e a arquitetura da paisagem como território teórico que o abriga e possibilita seu trânsito e expansão através do arco dos estudos contemporâneos. O confronto entre esses pensares pode revelar caminhos para a crítica de arranjos interpretativos a partir de padrões, símbolos e signos que se manifestam nas práticas socioespaciais e na morfologia do tecido urbano afinal, ambos se revelam através da história da paisagem, e, propriamente, na materialidade dos ambientes construídos.

O efeito que se quer gerar com tal movimento não é a subversão ingênua ou a banalização de conceitos, levando o contraditório ao seu limite – este não é o argumento estruturante da questão. A ideia é justamente o oposto, ao sinalizar, entre outras coisas, (i) a rejeição de um aparelhamento sistêmico que reproduz conceitos, (ii) a consequente desnaturalização teórica de conceitos aplicados até a sua exaustão, e, por fim, (iii) a crítica à mecanização de práticas analíticas da paisagem (auto-referenciadas) que carregam o estandarte de uma opaca rotina metodológica que em tese, reescreve ideários, repete jargões, valida dogmas e, por isso, institui outros, e assim congela um debate que, por natureza, está sob o signo da anamorfose e pulsa através da reivindicação feita pelas forças produtivas avant garde. O que está em pauta é o interesse de aprofundar o estudo de hibridismos culturais e práticas socioespaciais, mediante a reflexão teórica e a elaboração de um escopo conceitual que acolha a discussão de matérias pertinentes ao recorte temático e ao objeto definido da pesquisa: os domínios da paisagem.

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